Um passarinho malicioso
Lazaros Leumorfis tinha o hábito de segurar a
cabeça com as mãos porque acreditava que a qualquer momento esta podia
desprender-se do pescoço e cair ao chão. Por isso, nunca se distraia da sua
importante tarefa, segurando a cabeça com o maior zelo de que era capaz.
Mas fosse porque algum passarinho malicioso
lhe soprava qualquer coisa ao ouvido, fosse por outro motivo que não procurei
determinar, o certo é que houve um momento em que Lazaros se distraiu e largou
a cabeça. Esta caiu instantaneamente ao chão, saltou duas ou três vezes com a
elasticidade de uma bola de borracha, e rolou rua abaixo e em contramão, rumo à
Place Dauphine, que brilhava lá ao longe.
Em que estado de espírito se encontrou
Lazaros depois deste infeliz acontecimento, é algo que não nos atrevemos a
imaginar. Diremos apenas que não se poupou a esforços para recuperar a cabeça,
procurando-a por toda a parte, durante dias a fio. E de bom grado teria
continuado a procurá-la se entretanto vários assuntos de maior importância o
não tivessem chamado a outro lado.
In Doutor Avalanche, Angelus Novus, 2010, pp. 17-18
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